Sem poesia, a vida seria a morte.


sexta-feira, 30 de dezembro de 2011


o ano foi de um ano ou mais
e não há o que esquecer destas horas todas
onde a minha tristeza foi a minha melhor tristeza
que abriu minha carne e entranhas
para a gestação sagrada da paz de quem sabe de seus desfiladeiros

um ano de olhos fechados durante os dias
de olhos despertos nas noites de sono profundo
onde os sonhos foram a realidade da vida

um ano de alma despida, nua, translúcida
de alma leve, mulher, feminina, inteira
um ano de unhas brancas, vermelhas, azuis, liláses
e com dias de dedos roxos de frio

um ano de pés descalços
cegos e atentos ao chão que tantos dias fugiu deles
um ano de pés nas pedras, de passos largos e pele fina,
machucada

um ano de rosas, de santas, santas revelações
um ano de oráculos, de sombras e de estrelas cadentes
um ano de céu claro e lua cheia
lua grande num peito livre, finalmente

um ano de perdas
de peso, de medos, de solidão
perder a solidão
ano do impossível crescer até ser inevitável

um ano onde as escolhas foram caminhos
os medos não alargaram os dias,
mas as alegrias sim, misteriosamente, as alegrias deixaram os dias maiores.

um ano de novas estradas
onde as curvas não eram abismos

um ano onde os encontros foram encontros
que os desencontros nunca foram antes

um ano que meus abraços fizeram meu coração aprender a beijar
e o amor que chegou é amor pra ficar

um ano que termina com vento que não mais seja tormento
um ano que o medo se foi nesse vento que trouxe um perfume diferente, fresco, doce..tão leve e denso..

que venha então o novo,
mais ano que todos, o primeiro de muitos novos

Porque o ano que chega é ano que meu coração se abre para uma festa,
e a cereja do bolo
é cereja de verdade.

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