Sem poesia, a vida seria a morte.


sábado, 27 de fevereiro de 2010

Demência

O buraco negro dos meus olhos fazem minha escuridão me fitar também. E tem momentos que ser assim observada pelas minhas próprias trevas me traz muito medo. Quem seria esta inquietude que me fita agora, do fundo do negro dos olhos profundos que aparecem neste espelho..que estranho conhecer estes desconhecidos olhos tão familiares..

Tenho enfrentado corajosamente minha solidão, meu desapego, minha tristeza e até mesmo o meu vazio. Todos dizem que sou corajosa. A coragem não me ama, não me cuida, me deixa cada vez mais distante de tudo o que eu gostaria de ser. Mas também me aproxima daquilo que eu mais deveria ser. Simples assim, complicado assim.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O peso da minha alma

Encontrei a resposta de uma pergunta perdida dita dias atrás..Alice Ruiz respondeu agora há pouco: 
Leveza:
borboleta na chuva
o peso da gota
ainda mais leve 
(livro Yuka)

Ainda passo boa parte de um tempo sagrado buscando as perguntas perdidas para algumas respostas tão disponíveis..


 

Sobre amar

Penso vagueando sobre uma notícia de jornal: 
"Britânico é preso pela morte de seu amante terminal."

Realmente não seria uma utopia pensar que o amor verdadeiro encontra sua paz de realizar-se mesmo na mais frágil condição humana. Felizmente fui testemunha disto incontáveis vezes..Fica fácil amar um ser perfeito de tempos antigos. O desafio é encontrar o amor nos olhos daquele que a doença transfigurou, transformou. Quando a gente se perde do amor, fica sem alma. A morte não pode ser pior do que se perder de si mesmo. Mas é exatamente quando nos perdemos é que desejamos a morte. Encontrar-se é renascer. Que Deus permita que alguém me ame quando eu menos merecer..


Nuvens

Ainda nos momentos de intervalo, em vão pensamos em nos comunicar, mandar pelo menos um sinal de fumaça..mas o que poderemos receber em resposta? Talvez só fumaça mesmo.. Tentando respirar melhor depois deste quase sufocamento, procurei por Camões seguindo as orientações de Mário Quintana. Mas encontrei somente ele mesmo, ou a mim mesma: "Por acaso surpreendo-me no espelho: quem é esta que me olha?" Se eu fosse eu, o que faria diante de (apenas) um sinal de fumaça? E se eu fosse eu, o que faria diante deste espelho? Reconhecer ou reinventar.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Jejum de poesia pode fazer a alma emagrecer. Mas tem momentos de necessidade de dieta de palavras, mesmo de pensamentos. Vagueando na meditação pode ser possível renascer ventos novos, mas agora o tempo está parado, sem brisa nem nada. Quanto pesa minha alma? 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Prescrição elementar para problemas de visão

Que luz suave banha aquilo que a alma reconciliada contempla. A menor nuance torna-se sensível; as cores parecem que acabam de ser criadas, quando o doce fim dos tormentos vem devolver a vida à estranha criança que existe em nós. Eis que ela acredita novamente no que vê. Paul Valery in Alfabeto
A gente vive num mundo muito estranho. De repente me perdi do meu caminho, encontrei coisas e sentimentos que, se eu não estivesse perdida, jamais teria encontrado. Mas andando devagar, o caminho volta para os nossos passos. Se tornar um caminho me parece ser a Grande Missão. Hoje aprendi a fazer pão. Dia lindo, sem pressão, pão fresco, café, mantras, yoga. Parece simples assim, mas eu queria saber onde eu estava nos últimos 41 anos..complicado assim, simples assim.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Agora vamos fazer prescrição de poesia segundo sintomas. Falta de ar? 

Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.
  Mario Quintana